Eu não sabia que te amava tanto,
Pois, na campanha, quando um homem sonha,
Tem pouco tempo pra cuidar do campo.
Depois, tu sempre foste tão presente
Que eu jamais te vi ausente
Pra saber se te amava.
Mal rompia a aurora...
Eu já ouvia teus passos, pela casa,
Querendo fazer silêncio
Com medo que eu despertasse
E te surpreendesse, às voltas,
Sem ter fogo no fogão
E um mate bem cevado.
Nunca senti falta de ti
Pois nunca me deixaste faltar nada,
Tão grande era o teu zelo
Com a minha indiferença
Que tu sabias décor todas as minhas manias
Que tu fazias feliz todas as minhas vontades
Como se o amor me concedesse
Esse direito absurdo
De ser o senhor da casa.
Eu nunca precisei exigir nada,
E nunca nada pedi.
Tu, sim, estavas sempre pronta,
Sempre alegre e disposta
Me dando tudo de ti.
A noite, na penumbra do candeeiro,
Bueno, aí eu dava atenção
Pra teu corpo moreno
Sempre disposto a tudo...
Cativo dos meus desejos.
Então me explica, Mimosa,
Como é que eu saberia
Que aqueles beijos, no catre...
A prosa adoçando o mate
Na hora do sol se pôr:
(Como é que eu saberia?)
te juro que eu não sabia
que aquilo tudo era amor!
Diacho, como isso dói!
A lembrança é um ferro em brasa
Que queima a gente por fora
Deixando marca por dentro.
Parece que eu estou vendo
A atenção dos teus cuidados
Quando vinhas, de mansinho,
Trazendo um mate cheiroso,
E mil promessas nos olhos
Para sentar no meu colo
Qual um bichinho assustado...
Eu pensei que fosse assim:
Que os homens e as mulheres
Apenas vivessem juntos
Pra tomar mate e dormir.
Que os homens fossem pra o campo
Lidar com potro e lavoura,
E as mulheres, bem, as mulheres:
As mulheres fossem feitas
Pra ter filho e cuidar casa.
Meu Deus do céu, que pecado...
Como eu te amava Mimosa.
Mas, tu nunca quebraste um prato...
Tu nunca viraste o rosto...
Nem nunca negaste nada...
Mesmo quando eu chegava borracho dos bolichos
Ou vinha de madrugada, com cara de sorro manso,
Duma fuzarca de baile,
Ou cambicho com percanta:
Tu ainda me esperavas com café e bolo frito,
E, no mas, choramingavas baixinho...
Pra não perturbar meu sono.
Tu, sim, Mocinha, tu não me amavas:
Tu eras louca por mim!
Quantas vezes me ajudaste
A apear do cavalo, por que eu não tinha vergonha
De beber até cair,
E me levavas pra o rancho,
E, com paciência de mãe, descalçavas minhas botas,
E tiravas minha roupa.
Até banho tu me deste...
Tu me perdoa, Mimosa,
Mas eu sempre fui um canalha.
Não, te juro que eu não sabia
Que as mulheres, quando amam,
As vezes, são quase santas,
Pois se dão de tal maneira
Que viram posse da gente,
E sofrem qualquer desgosto
Como se fosse normal...
Quantas noites de novena
Te ajoelhastes, ao pé do catre,
Acariciando o rosário
Pra que Deus me protegesse
Naquelas domas de potro.
E dizer que em tantos anos
De vida vivendo juntos
Eu nunca voltei pra casa
Te trazendo alguma flor,
Eu nunca chorei por ti,
Nem nunca disse: - Te amo!
(Porque isso era fraqueza
E, gaúcho, ah, gaúcho é macho!
Não dá o braço a torcer
Pra prenda não tomar conta...)
Como eu fui xucro, Mimosa,
Tu me destes mil motivos
E eu não soube ser feliz,
Tu querias ser amor
E eu não soube ser amigo.
Eu nunca te mereci
Mas tu sempre acreditaste que eu era o que não fui,
Tu, sim, soubeste ser, ao meu lado,
O que jamais eu seria:
Uma santa de bondade
E uma fonte de perdão.
Bueno, chega de prosa,
Eu te trouxe as margaridas
Que plantaste no oitão...
(Não liga se estou chorando,
Pois, agora, eu sempre choro
Quando chego e não te encontro...)
Hoje, eu criei coragem
E vim dizer que te amo,
Que eu sempre, sempre te amei!
Só pede pra Deus, Mimosa,
Que ele, também me perdoe
E quando eu mudar de lado,
E for translúcido e aéreo
Me conceda a eterna graça...
E deixe, em nome do amor,
Que eu seja anjo contigo.